Redação 29 Junho 2019, 10:00
Por: JORNAL ECONÓMICO
Além da otimização dos recursos, alguns agentes económicos apontam a necessidade de colaboração entre entidades e de integrar as pessoas no processo de criação de zonas urbanas mais eficientes.
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1. Que oportunidades de negócio podem surgir no âmbito das smart cities?
2. Entre as áreas de investigação, tecnologia, arte, mobilidade, energia, gestão urbana, etc., qual a mais importante para criar um município eficiente?
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Ana Fragata, Diretora executiva do Fórum Internacional das Comunidades Inteligentes e Sustentáveis
1 – Vivemos tempos emocionantes de implantação de projetos. Há muita inovação a acontecer no ambiente urbano. Independentemente da dimensão da cidade, há áreas particularmente sensíveis para as quais as tecnologias estão a dar um contributo determinante para a melhoria da eficiência na gestão e para a qualidade de vida dos habitantes. A prioridade dada ao automóvel passa a ser dada ao peão, ao ciclista e aos transportes públicos, obrigando a grandes investimentos em infraestruturas e equipamentos para adaptar as cidades à mobilidade crescentemente elétrica, coletiva e partilhada. Em Portugal, em 2019, 5% dos novos carros são elétricos e há investimentos importantes ao nível dos Transportes Coletivos. As cidades estão a construir vias cicláveis, o que irá possibilitar passar de 1% de utilizadores regulares de bicicleta para 7% a médio prazo. Há iniciativas de gestão da energia e da iluminação com smart grids, tecnologia LED e sensores, com impacto na redução dos custos e impacto ambiental.
2 – Uma smart city é uma comunidade de pessoas inteligentes. Determinante para o seu sucesso de é a participação dos cidadãos no processo de decisão. O seu governo fomenta iniciativas “bottom-up” com recurso a plataformas abertas que constituem um interface que disponibiliza dados e serviços aos cidadãos, permitindo-lhe participar ativamente, facilitando a sua apropriação desde o início com impactos económicos e a melhoria dos serviços prestados. Há que investir num centro que integre e monitorize as redes e infraestruturas de forma centralizada. Este centro recebe todos os dados dos sensores e redes e através de ferramentas de inteligência artificial coloca à disposição dos cidadãos informação útil para a tomada de decisão, contribuindo para a competitividade da cidade e qualidade de vida dos seus cidadãos. Não podemos ignorar que há maus investimentos em cidades que implementam soluções que representaram custos sem as contrapartidas esperadas para os cidadãos.
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Paulo Raposo, Diretor geral da Mastercard em Portugal
1 – O factor-chave das smart cities vai ser a colaboração, um verdadeiro superpoder para alcançar a eficiência, promover o crescimento económico e assegurar a inclusão de todos quanto precisam das cidades para viver ou trabalhar. E é por isso que na Mastercard estamos a apoiar a criação de parcerias em todo o mundo. São mais de 150 projetos que partem das novas tecnologias e standards abertos de pagamento para que os decisores públicos possam entregar resultados tangíveis às suas comunidades. O exemplo de Londres, onde a Mastercard impulsionou a introdução da tecnologia contactless na TfL (Transport for London) permitiu uma redução de custos na ordem dos 35%, superior a 100 milhões de euros, porque, graças à nossa tecnologia de pagamentos, conseguimos que a entidade gestora dos transportes públicos de Londres reduzisse o custo de emissão de um título de transporte de 14% para 9%. Este é um exemplo claro do potencial da utilização de tecnologias de pagamento para gerar benefícios para a comunidade porque facilita a mobilidade dos cidadãos e cria eficiência para os operadores de transporte. Quatro anos após o lançamento desta solução, metade das viagens feitas nos transportes públicos de Londres já são pagas com o cartão de pagamento contactless que as pessoas trazem habitualmente na sua carteira.
2 – Sem dúvida que um dos principais fatores é a mobilidade em ambiente urbano. Na Europa, por exemplo, o nosso foco tem sido posto nas questões ligadas aos transportes públicos.
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João Paulo Fernandes, Diretor geral da NEC Portugal1 – Enquanto empresa das TIC, as oportunidades de negócio que as smart cities nos apresentam resultam da implementação de soluções tecnológicas que permitam facultar às cidades mais e melhor informação no sentido de permitir que os seus serviços sejam mais eficientes e uteis aos cidadãos. Por exemplo, a utilização de sensores para recolha e tratamento de informação relacionada com serviços vitais ao funcionamento de uma cidade, tais como o transito, a recolha de resíduos, a iluminação, a distribuição de água ou a segurança, entre outras, permite que os gestores desses diferentes serviços possam recolher informação sobre eles, que de outra forma não teriam, permitindo-lhes entender melhor quais os seus problemas e ineficiências e desencadear ações que permitam endereçar e corrigir essas ineficiências. Associando à utilização de sensores o tratamento dos dados por eles recolhidos, através de ferramentas analíticas que permitam extrapolar tendências e efetuar previsões, chegamos à visão de topo da NEC para as Cidades Inteligentes que consiste em facultar aos gestores da cidade e aos cidadãos, uma plataforma agregadora de dados, uma espécie de “painel de Instrumentos” da cidade, capaz de lhes dar informação atualizada sobre as ocorrências críticas da cidade e sobre o estado e nível de desempenho dos seus diferentes serviços, apoiando-os no processo de tomada de decisão visando o aumento de eficiência tanto na resolução das ocorrências como na implementação dos serviços.2 – A NEC só se pode pronunciar em termos dos ganhos de eficiência que as novas soluções tecnológicas podem aportar às cidades. A esse nível, a utilização das novas ferramentas tecnológicas hoje em dia disponíveis ao nível da sensorização (Internet das Coisas) e da analítica de dados (Big Data), permite às cidades fechar, em termos dos seus diferentes serviços urbanos, o ciclo planear, implementar, medir, corrigir e com isso aumentar a rapidez de resposta a ocorrências e incidentes e a eficiência dos serviços urbanos, aumentando a satisfação dos cidadãos com esses serviços e a sua qualidade de vida.
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Jorge Delgado, CEO da Compta
1 – A estratégia que temos para esta área é muito clara e assente numa cadeia de valor que se centra em três pilares com três objetivos fundamentais: sensorização, conectividade e orquestração. Ora estas três fases trazem em si diversas oportunidades de negócio, sendo que o nosso core se centra naturalmente na área da orquestração, onde temos uma oferta completa em termos de verticais com o objetivo de permitir que os nossos clientes possam: recuperar, reciclar e reduzir o seu consumo e uso de energia e matérias primas. Assim, criamos uma plataforma que agrega aplicações verticais de IoT, onde este layer de agregação partilhado para todas os verticais liga-se a outras plataformas permitindo uma integração dos nossos Produtos BEE2 para eficiência energética, iluminação publica, gestão de resíduos industriais e urbanos, gestão de regas em espaços verdes, prevenção e deteção de incêndios, assim como canais digitais de ligação direta entre os cidadãos e a sua autarquia.
2 – O conceito de cidade inteligente é muito abrangente. A razão pela qual criamos esta estratégia por verticais é para permitir que o poder local possa realizar uma caminhada suave em torno das suas prioridades e facilitar a experimentação dos benefícios associados á nossa oferta. O verdadeiro território inteligente materializa-se pela soma de todas as partes. A otimização dos recursos é uma prioridade, contudo é apenas um dos vetores. A esse deve-se sempre somar-se o cidadão, os recursos locais e as particularidades de cada geografia. Assim um município eficiente é em primeiro lugar uma determinação estratégica do poder local, que deve olhar para o seu território identificar pontos de melhoria e usar a tecnologia como um acelerador para esse sucesso.
Mais informações em: https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/smart-cities-sao-fruto-da-uniao-entre-estado-privados-e-cidadaos-461094